O potencial das crianças para superdotação/altas habilidades é frequentemente tema de fascínio e debate. O entendimento sobre esse tema tem evoluído ao longo dos anos, desafiando noções pré-concebidas e destacando a importância do ambiente no desenvolvimento do potencial humano.
Conforme evidenciado por estudos científicos,
"o desenvolvimento da inteligência é influenciado pela interação entre
fatores genéticos e ambientais" (Sternberg, 2004). Ele apresenta a ideia de que nenhuma criança nasce superdotada, mas sim com
potencial genético para a superdotação, e como esse potencial pode ser nutrido e
desenvolvido através de interações entre herança genética e ambiente propício.
O trabalho de Benjamin Bloom, um proeminente
educador americano que se destacou na década de 1980, oferece uma perspectiva
profunda e provocativa, enfatizando o papel fundamental da família no
desenvolvimento do alto desempenho. Bloom e sua equipe conduziram uma análise
abrangente de indivíduos que demonstravam excelência em uma variedade de
disciplinas, incluindo balé, natação, piano, tênis, matemática, escultura e
neurologia. Essa pesquisa não se limitou apenas aos indivíduos em questão, mas
também incluiu entrevistas com seus pais, ressaltando assim a importância do
ambiente familiar nesse processo.
O termo "Altas Habilidades" está
frequentemente ligado a debates sobre inteligência. Anteriormente, esta
categoria era designada simplesmente como "superdotação", mas ambas
as designações ainda são utilizadas, inclusive em documentos oficiais do
Ministério da Educação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 3% e 5% da população brasileira apresenta Altas Habilidades. Esta definição é empregada por diversos programas educacionais no Brasil para identificar crianças consideradas superdotadas e talentosas, que evidenciam notável desempenho e potencial em áreas como inteligência geral, aptidão acadêmica específica, criatividade, liderança, talento artístico e habilidades psicomotoras.
As características comportamentais primordiais dos alunos com Altas Habilidades incluem uma necessidade de autoafirmação, desenvolvimento de interesses específicos, preferência por interações com pessoas de intelecto similar, busca por originalidade, espírito crítico, elevadas expectativas pessoais, aversão a autoritarismo exacerbado, desinteresse por regras inflexíveis, senso de humor refinado, persistência em interesses pessoais, sensibilidade às injustiças, curiosidade investigativa, comportamento agitado, desatenção à rotina e impaciência com detalhes e repetições na aprendizagem.
É fundamental desfazer alguns equívocos acerca desses indivíduos, como a falsa ideia de que todos possuem desempenho acadêmico excepcional ou se encaixam em estereótipos específicos. Os alunos com Altas Habilidades constituem um grupo diversificado.
Desenvolvimento da Superdotação
É possível que uma criança superdotada seja confundida com uma criança esforçada e disciplinada, especialmente se ela estiver tirando boas notas devido ao seu esforço e dedicação. Aqui estão algumas razões pelas quais essa confusão pode ocorrer:
Desempenho acadêmico: Tantas crianças superdotadas quanto crianças esforçadas e disciplinadas podem alcançar bons resultados acadêmicos. Ambas podem colocar um esforço significativo em seus estudos e demonstrar um compromisso com o aprendizado.
Foco e dedicação: Tantas crianças superdotadas quanto crianças esforçadas podem mostrar um alto nível de foco e dedicação em relação aos seus objetivos acadêmicos. Isso pode levar a resultados semelhantes em termos de notas e realizações escolares.
Métodos de ensino: Em alguns casos, crianças superdotadas podem não ser identificadas como tal devido a métodos de ensino que não são adequados para atender às suas necessidades específicas. Se uma criança superdotada não receber oportunidades para desenvolver todo o seu potencial, ela pode parecer apenas uma criança esforçada e disciplinada.
Variação no desempenho: Crianças superdotadas podem exibir variações em seu desempenho acadêmico. Algumas podem tirar boas notas sem muito esforço, enquanto outras podem precisar de um esforço significativo para alcançar o mesmo nível de realização acadêmica.
Portanto, é importante ter em mente que o desempenho acadêmico por si só pode não ser suficiente para determinar se uma criança é superdotada. Uma avaliação abrangente, levando em consideração múltiplos aspectos do desenvolvimento e do comportamento, é necessária para identificar adequadamente as crianças superdotadas.
As características de uma pessoa superdotada
podem incluir:
Alto nível de inteligência: Indivíduos
superdotados geralmente demonstram um alto nível de capacidade intelectual em
comparação com os seus pares. Isso pode se manifestar em habilidades como
raciocínio rápido, pensamento crítico aguçado e uma capacidade excepcional de
aprendizado, QI acima de 130.
Interesses amplos e profundos: Muitas vezes, as
pessoas superdotadas têm uma curiosidade insaciável e uma paixão por explorar
uma ampla variedade de tópicos. Eles podem mergulhar profundamente em áreas
específicas de interesse e desenvolver um conhecimento detalhado sobre esses
assuntos.
Criatividade e originalidade: A criatividade é
uma característica comum entre os superdotados. Eles podem apresentar ideias
originais, soluções inovadoras para problemas e uma capacidade de pensar de
maneira não convencional.
Sensibilidade emocional: Alguns indivíduos
superdotados podem ser altamente sensíveis emocionalmente, o que pode levar a
uma intensa empatia pelos outros, preocupações com questões sociais e uma
profunda reflexão sobre o mundo ao seu redor.
Necessidade de desafio: Devido ao seu alto
nível de capacidade intelectual, as pessoas superdotadas frequentemente
necessitam de desafios significativos para se manterem engajadas e motivadas. A
falta de estímulo intelectual adequado pode levar ao tédio e à frustração.
É importante reconhecer que, assim como outras formas de neurodivergência, a superdotação é uma característica natural da diversidade humana e requer apoio e recursos adequados para que os indivíduos superdotados possam desenvolver todo o seu potencial e contribuir de forma significativa para a sociedade.
A natureza do potencial superdotado: O desenvolvimento do potencial para superdotação ocorre desde cedo na vida de uma criança e é resultado da interação entre herança genética e ambiente propício. Como destacado por Vygotsky (1978), "a interação social desempenha um papel fundamental na formação das funções psicológicas superiores". Estudos realizados desde a década de 1970 destacam que todas as crianças têm um potencial incrível, mas apenas aquelas que recebem oportunidades adequadas de desenvolvimento podem alcançar níveis elevados de capacidade intelectual.
Mudança no conceito de superdotação: O conceito de superdotação evoluiu para abranger não apenas habilidades analíticas e racionais, mas também uma ampla gama de habilidades humanas, como criatividade, liderança e desempenho artístico. Isso reflete uma compreensão mais holística do funcionamento cerebral e das diversas formas de expressão da inteligência. Como mencionado por Gardner (1983), "a inteligência é multifacetada e abrange uma variedade de habilidades e competências".
Interseção entre natureza e criação: O desenvolvimento da inteligência é influenciado pela interação entre fatores genéticos e ambientais. Os genes fornecem um potencial inicial, mas é o ambiente que molda e seleciona essas capacidades. Como ressaltado por Plomin et al. (2016), "a influência do ambiente é importante para o desenvolvimento da inteligência, pois interage com os fatores genéticos para moldar o curso do desenvolvimento cognitivo".
Identificação e características de crianças superdotadas: As crianças superdotadas apresentam uma série de características distintas, incluindo intensa curiosidade, pensamento complexo, conexão de ideias aparentemente díspares e persistência na busca de interesses. Além disso, podem demonstrar uma sensibilidade incomum aos sentimentos dos outros, uma preocupação precoce com questões globais e uma grande expectativa para si e para os outros. Identificar essas crianças muitas vezes envolve observar seu comportamento em um ambiente rico e receptivo, onde possam explorar e expandir seus interesses de forma adequada.
O desenvolvimento do potencial superdotado em crianças é resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais. Nenhuma criança nasce superdotada, mas todas têm o potencial para alcançar níveis elevados de capacidade intelectual. É fundamental proporcionar um ambiente rico e receptivo que estimule o crescimento e a expressão das habilidades individuais de cada criança.
Nota :
Barbara Clark.(2017)Associação Nacional para Crianças Superdotadas (NAGC).
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades/superdotação. Brasília: MEC; SEE, 2006.
Educational Psychology, 29(1), 25-26. Vygotsky, L. S. (1978). Mind in society: The development of higher psychological processes. Harvard University Press.
Gardner, H. (1983). Frames of mind: The theory of multiple intelligences. Basic Books.
Plomin, R., Deary,
I. J., & Batty, G. D. (2016). Genetics and intelligence differences: Five
special findings. Molecular Psychiatry, 21(1), 98-108.
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